O bigode já foi sinônimo da palavra de um homem. Em vez de assinar um documento, era dado um fio do conjunto de pelos para sacramentar um compromisso. Entre o século XIX e a primeira metade do século XX, foi sinônimo de poder e dinheiro. Era quase obrigatório entre os homens mais proeminentes. Mas na Rodoferroviária de Brasília, o bigode virou sinônimo de transgressão. Em uma assembleia do sindicato dos 40 carregadores de malas do local,
foi decidido proibir o uso de barba ou bigode.
Quem teimasse seria impedido de trabalhar. Foi o que aconteceu com o primeiro carregador de malas de Brasília, Veríssimo Gomes. Ele trabalha na Rodoferroviária desde a inauguração da capital e há 52 anos ostenta um bigode bem aparado no rosto. “Achei que fosse uma brincadeira, mas depois vi o aviso”, comenta. Mesmo afastado, ele não mudou de ideia.
“Prefiro ficar desempregado, mas com bigode”. Não será preciso... o sindicato da categoria voltou atrás na decisão, depois que o Ministério Público do Trabalho entrou no caso e afirmou que a determinação é ilegal. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) também rechaçou a medida. Segundo o advogado Paulo Blair, especialista em direito do trabalho e professor da Universidade de Brasília, esse tipo de proibição só é aceitável nos quartéis militares. “As Forças Armadas têm um código de conduta próprio, mas, fora de lá, obrigar alguém a tirar o bigode para trabalhar é proibido e inconstitucional”, afirma. Ele acrescenta que no caso dos carregadores, que são autônomos, a entidade de classe não pode desfiliar ninguém. “Isso deve ser encarado, no máximo, como uma recomendação. Jamais proibição”.
“O objetivo sempre foi o de atender melhor a população”, defende o vice-presidente do Sindicado dos Carregadores da Rodoferroviária, Wilson dos Santos Barbosa. “Tem vários outros itens, como não fumar durante o atendimento, não usar fone de ouvido e celular. A questão do bigode é porque tinha gente chegando aqui muito desleixado, com cabelo desarrumado e barba por fazer”, justifica.
O carregador Nelson Antônio Caetano raspou o bigode, mas jura que não sofreu. “Eu tenho há muito tempo, mas tiro de vez em quando. Mas, se puder, vou deixar crescer de novo”, promete.
Fonte:
Dzaí